segunda-feira, 30 de novembro de 2015

António Gedeão (1906-1997)


Afirmou-se como um dos mais brilhantes e talentosos criadores lusófonos do século XX.
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho tem uma obra literária sob o pseudónimo de António Gedeão. 
Foi professor, pedagogo e historiador da ciência, e o seu alter-ego literário atravessou todas as convulsões e acontecimentos marcantes do nosso século. Revelou, nos seus poemas, um  espírito extremamente marcado pelo cepticismo e pela ironia e uma simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, a vida e o sonho e a lucidez e a esperança.

Vida e Obra de António Gedeão/Rómulo de Carvalho

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Idalécio Cação


Ficcionista e poeta. Viveu até muito tarde na sua aldeia, mas quando se radicou em Aveiro, a partir de 1954, interessou-se pelos problemas culturais e, como trabalhador-estudante, pôde frequentar o curso de Filologia Românica, em que se licenciou em 1977 pela Universidade de Coimbra. Exerceu depois o ensino em escolas preparatórias e, desde 1984 na Universidade de Aveiro, onde regeu a cadeira de Didáctica do Português.

Esteve ligado ao Círculo de Teatro de Aveiro (nos anos sessenta) e participou activamente em jornais e revistas, onde tem dispersas poesias e contos. Fundou e coordenou os suplementos literários «Sal Gema» do Jornal do Oeste (Rio Maior) e «Diálogo» do Jornal Beira-Vouga (Albergaria-a-Velha). Foi um dos responsáveis pelos Cadernos de Poesia (1971). Mas é no domínio da ficção que a sua bibliografia merece atenção, sobretudo por ser demasiado patente nos seus contos um profundo sentido de compreensão e denúncia dos problemas da sua região natal, isto é, de toda a Gândara figueirense. 

É sócio da Associação Portuguesa de Escritores, da Associação Cultural Sol XXI, de cuja revista é delegado em Aveiro, da Associação de Jornalistas e Escritores da Bairrada, de que foi sócio fundador e membro da Comissão Instaladora, da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, do Sindicato dos Professores da Região Centro e da Quercus.


in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Gabriel Garcia Marquez


Gabriel Garcia Marquez
 Aracataca, Colômbia - 1927 - Cidade do México - 2014

Escritor, jornalista e editor, prémio Nobel da literatura em 1982, pelo conjunto da sua obra.



O seu livro Cem Anos de Solidão é o romance mais popular, em língua espanhola, desde D. Quixote.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Manuel da Fonseca (cont)



Maria Campaniça, de Manuel da Fonseca, por Maria Barroso

Debaixo do lenço azul com sua barra amarela
os lindos olhos que tem!
Mas o rosto macerado
de andar na ceifa e na monda
desde manhã ao sol-posto,
mas o gesto
das mãos torcendo o xaile nos dedos
é de mágoa e abandono...
Ai Maria Campaniça,
levanta os olhos do chão
que eu quero ver nascer o sol!
in Poemas Completos



Tejo que levas as Águas faz parte do conjunto de poemas "Poemas para Adriano" escrito por Manuel da Fonseca para o músico Adriano Correia de Oliveira e que foram  incluídos no seu disco "Que nunca mais" (1975)

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Manuel da Fonseca


Manuel da Fonseca 
Santiago do Cacém, 12 de Outubro de 1911 - Lisboa 11 de Março de 1993

Manuel da Fonseca (1911-1993), considerado um vulto destacado do neo-realismo, nasceu em Santiago do Cacém, em 15 de Outubro de 1911, mas cedo veio para Lisboa, onde iniciou a sua actividade literária.
Poeta, romancista, contista e cronista, toda a sua obra é atravessada pelo Alentejo e o seu povo. Ligado ao neo-realismo, evoluiu no sentido de um regionalismo crescente, ligado ao seu Alentejo natal, retratando o povo desta região e a miséria por ele sofrida. Contestatário e observador por natureza, a sua escrita era seguida de perto pela censura.
Colaborou em várias publicações, de que se destacam as revistas Afinidades, Altitude, Árvore, Vértice, O Pensamento, Sol Nascente, Seara Nova, os jornais O Diabo e Diário e fez parte do grupo do «Novo Cancioneiro». Faleceu a 11 de Março de 1993, com 81 anos.

Para saber mais sobre Manuel da Fonseca:




terça-feira, 29 de setembro de 2015

Leitura de Férias


Patrick Modiano, escritor francês foi Prémio Nobel da Literatura em 2014. Este romance situa-se no contexto da 2.ª guerra mundial e nele, o narrador, descreve toda a investigação feita para saber o que aconteceu a uma jovem rapariga judia parisiense que desapareceu em 1941, em plena guerra mundial. Ao ler o anúncio do seu desaparecimento, num jornal da época, o narrador inicia, cerca de 50 anos depois,  uma procura seguindo o rasto da rapariga, fazendo-nos entrar na atmosfera dos internatos de raparigas e dos campos de concentração, terminando em Auschwitz, onde ela morreu.  


Rentes de Carvalho é já nosso conhecido, pois já lhe dedicamos uma ou duas sessões do nosso clube. O Rebate passa-se numa aldeia transmontana, onde a festa da aldeia traz a presença de emigrantes, entre os quais, um casal, em que ele, nascido na aldeia, é acompanhado por uma francesa rica com quem casou. O choque de mentalidades e de costumes bem como a riqueza que estes ostentam, faz abalar a tranquilidade da aldeia.


 Mia Couto é um autor cuja escrita aprecio bastante. As suas histórias, quase todas passadas em África são plenas de imaginação. Também aprecio a sua habilidade para inventar palavras. 
Neste livro, Mia conta-nos a história de um jovem médico que se apaixona, em Lisboa, por uma jovem moçambicana e não descansa enquanto não vai a Moçambique à aldeia de onde ela é natural. Mas chegado lá, todos os segredos e mistérios da família da sua amada, bem como a sua ausência da aldeia, o fazem ficar muito desconfiado...


O autor dispensa apresentações. Tocaia Grande é um romance, cheio de aventura, que narra a fundação de uma hipotética cidade cacaueira no Nordeste. A pouco e pouco, e como resultado de lutas entre coronéis, a cidade vai-se povoando e aparecem as mais pitorescas personagens típicas dos romances de Jorge Amado. O Turco, os coronéis, os capitães, os jagunços, as prostitutas e outras. É um romance muito bem humorado e retoques de sensualidade e com algumas cenas verdadeiramente hilariantes.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Encerramento das atividades do ano letivo

Hoje foi o último dia do Clube de Leitura, por este ano. J. Rentes de Carvalho, um transmontano, cidadão do mundo, proporcionou-nos alguns momentos divertidos através da leitura de excertos da sua obra.
Para terminar, o lanche da praxe e as flores para a professora. Muito Obrigada!



Visita de Estudo 19 de maio - Trabalhos realizados

Após a realização da visita de estudo todos os alunos foram convidados a realizar um pequeno trabalho sobre a atividade. Aceitaram o convite com entusiasmo e, na aula seguinte, apresentaram trabalhos diversificados, tais como: Reflexão oral, relatório escrito, artigo para o jornal e inspirados poemas. Podem ser lidos nas ligações seguintes.

Deolinda Caldeira

Poema

Manuel Costa

Artigo - Casa de Camilo e Paço dos Duques

Fernanda Silva

Relatório

Conceição Henriques

Artigo - Casa de Camilo.

Delfim Azevedo

Camilo e sua Obra

terça-feira, 26 de maio de 2015

Camilo e sua obra


Pelo rasto de Camilo viajamos
Em Seide, terra onde viveu
Na busca de sinais do seu passado
Patente, na sua casa museu.

Um génio da literatura
Inteligente e sagaz
Na crítica, e no confronto
Implacável e mordaz.

Pensador livre e rebelde
Sem amarras e condições
Despertou paixões e ódios
Dilacerou corações.

Foi amante aventureiro
Impulsivo e discreto
Sempre prevaricador
Do socialmente correto.


Por mérito das suas obras
Ganhou prestígio e fama
Pelos escritos românticos
De mistério, amor e drama.

Enfrentou riscos e causas
Abandono e solidão
Desencanto e amargura
E o rigor da prisão.

Mente forte e vencedora
Seu lema de vida inteira
Sucumbiu por suicídio
Vencido pela cegueira.

Ficaram seus bens e memórias
De muitas histórias de encanto
Em sua casa cuidadas
Como relíquias de Santo

Delfim Azevedo

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Visita à Casa de Camilo em S. Miguel de Seide

Camilo e Ana Plácido

     A casa de Camilo, em S. Miguel de Seide, foi mandada construir por Pinheiro Alves, um industrial regressado do Brasil com avultada fortuna que, em 1850 casou com Ana Plácido, no Porto. 
     Como é sabido, os "amores" entre Camilo Castelo Branco e Ana Plácido iniciaram-se ainda durante o casamento, tendo ambos sido acusados de adultério e cumprido pena de prisão na cadeia da Relação do Porto. Posteriormente foram absolvidos e postos em liberdade. 
     Pouco tempo depois morre Pinheiro Alves e, nesse mesmo ano, Camilo e Ana Plácido mudam-se para S. Miguel de Seide, com Manuel Plácido, herdeiro da casa e de parte da fortuna de seu pai. Camilo Castelo Branco viveu nesta casa até à data da sua morte, por suicídio, em 1 de Junho de 1890.
     A casa conserva ainda diverso mobiliário da época, vários objetos do escritor e visitá-la é recuar no tempo imaginando o dia-a-dia de Camilo e de Ana Plácido. O seu escritório, com a grande secretária e as estantes de livros, levam-nos a imaginar o escritor ocupado na sua tarefa de escrever ajudado por Ana Plácido, que também foi escritora, algumas vezes sob pseudónimo, como era usual naquela época em que as escritoras mulheres não era muito bem aceites.
 As explicações do guia, ilustradas com histórias engraçadas e excertos da obra de Camilo citados de cor, a sua simpatia e sentido de humor, contribuíram para que esta visita fosse muito agradável, enriquecedora e para despertar em nós  a vontade de reler Camilo.


À porta do sepulcro, ainda volto a face
Para ver-te chorar, ó mãe do filho amado,
Que vê, como num sonho, a cena do trespasse…
- Sorver-lhe o eterno abismo o pai idolatrado.

Talvez que ele, a sonhar, te diga: "Mãe não chore
Que o pai há-de voltar…" Quem sabe se virei?
Quando a Acácia do Jorge ainda outra vez inflore,
Chamai-me, que eu de Abril nas auras voltarei.
         Acácia do Jorge


Foto de Grupo - Alunos da USIDEC


      

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Plátano




         É uma imagem inspiradora. Gosto disto até à medula, até ao cerne, literalmente. É como uma pintura abstracta, mas como está lá na árvore, naturalmente, abraçando o tronco, é bem concreta, então para quê pintá-la? Ou o meu pincel foi aqui a máquina fotográfica que captou uma imagem impressionista, ou talvez antes, realista. Sugestiva, a lembrar também o tecido da farda militar, o camaleónico camuflado.
         A água aviva-lhe as cores; então esperei que chovesse..., estava a morrinhar, era como se fosse uma camada de verniz, - caía lenta e persistentemente de um céu cinzento plúmbeo, - que paradoxalmente serve para proteger uma pintura da própria humidade. As cores vivas de uma Primavera, ainda que de um Inverno solarengo pudessem ser, de um amanhecer, ou de um entardecer luminosos, estão lá, - mais na parte inferior do rectângulo, que na superior, onde a luz é um pouco dissipadora - na periferia do grosso tronco, aqui planificado.
         Já o fotografara em tempo seco; cores mais claras, desvanecidas, menos recortadas, de uma “pintura” moribunda, sem vida, à espera de rejuvenescer, de ressuscitar com o jacto de verniz, disparado pela objectiva, qual frasco de spray nas mãos de um graffiter urbano e contemporâneo, não o pincel clássico de um “qualquer” Vincent Van Gohg.

Observações: (*)
A data é de uma certa religiosidade, da qual preciso por vezes.
 Dir-me-ão: - “A data é apenas coincidência! Não?”
Direi que sim!
                                                         
Manuel Oliveira Costa


13* de Maio de 2014

terça-feira, 28 de abril de 2015

O Infante



Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi  de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

Fernando pessoa, in Mensagem

segunda-feira, 20 de abril de 2015

D. Afonso Henriques, O Conquistador (1109?-1185)

Nas suas qualidades e nos seus defeitos, nas suas virtudes e nas suas derrotas, na sua dureza e na sua magnanimidade, na sua solidão de soldado e na sua capacidade de amar os outros como marido, como amante e como pai - D. Afonso Henriques foi, na plena acepção da palavra, um Homem.

Diogo Freitas do Amaral, in D. Afonso Henriques, Biografia

terça-feira, 7 de abril de 2015

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Ler, Viajar, e Sonhar

Ler! Ensina e valoriza
Deslumbra e até encanta
Interpela e Aconselha 
Decepciona e espanta

Conhecer sábios e mestres
Gente de grande talento
E que através da leitura
Partilham conhecimento.

A ler também se viaja
Sem limites ou fronteiras
De condição ou idade
Porque ler e viajar
São actos de liberdade.

Por lugares de sonho e história
Entre povos e Nações 
Conhecer as suas vidas
Costumes e tradições.

O sonho também se lê 
Tem asas amor e esperança
Sente-se e não se vê
Quem não sonha não alcança.

Tenta amarrar o teu sonho
Segui-lo e protege-lo
Para que ele não se perca
E se torne em pesadelo.

       Delfim Azevedo

terça-feira, 17 de março de 2015

A propósito da primavera

Quando Vier a Primavera

Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. 
A realidade não precisa de mim. 

Sinto uma alegria enorme 
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma 

Se soubesse que amanhã morria 
E a Primavera era depois de amanhã, 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. 
Por isso, se morrer agora, morro contente, 
Porque tudo é real e tudo está certo. 

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. 
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. 
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. 
O que for, quando for, é que será o que é. 

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" 

Heterónimo de Fernando Pessoa 

domingo, 1 de março de 2015

Poemas de O´Neill

Alexandre O´Neill




Alexandre Manuel  Vahia de Castro O'Neill de Bulhões  - GOSE  (Lisboa, 19 de Dezembro de 1924 — Lisboa, 21 de Agosto de 1986) foi um importante poeta do movimento surrealista português. Era descendente de irlandeses.

Autodidacta, O'Neill foi um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa. É nesta corrente que publica a sua primeira obra, o volume de colagens A Ampola Miraculosa, mas o grupo rapidamente se desdobra e acaba. As influências surrealistas permanecem visíveis nas obras dele, que além dos livros de poesia incluem prosa, discos de poesia, traduções e antologias. Não conseguindo viver apenas da sua arte, o autor alargou a sua acção à publicidade. É da sua autoria o lema publicitário «Há mar e mar, há ir e voltar». Foi várias vezes preso pela polícia política, a PIDE.

Fonte: Wikipédia, 1 de Março de 2015

Mais sobre o autor:

Um dos poemas mais conhecidos de Alexandre O´Neill é "Um Adeus Português", escrito em 1950. Na ligação abaixo, para o Blogue Folha de Poesia, poderão ler o poema e conhecer a história que lhe deu Origem.


 Folha de Poesia


sábado, 21 de fevereiro de 2015

António Alçada Baptista, 1927-2008



Alçada Baptista é o escritor de quem vamos falar na próxima sessão.
 Advogado, escritor e cronista, foi um dos fundadores da Revista O tempo e o Modo, diretor da Moraes Editora e do Jornal  O Dia entre outros projetos, vários, em que participou ao longo da sua vida. Auto designava-se como "escritor de afetos" e possuidor de "uma sensibilidade feminina".

Para saber mais sobre Alçada Baptista:
Vida e Obra

Notícia no Jornal Público, a propósito da sua morte a 7 de Dezembro de 2008


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

João Villaret - "A Procissão", de António Lopes Ribeiro (RTP)

Leituras



"Um romance extraordinário sobre o conflito israelo-árabe retratando personagens inesquecíveis, cujas vidas se entrelaçam com os momentos-chave da história a partir do final do século XIX a meados do século XX, e recriando a vida em cidades emblemáticas como São Petersburgo, Paris e Jerusalém. Aqui Julia Navarro conduz o leitor através de relações duras de homens e mulheres que lutam por uma parcela de terra onde possam viver em paz."
Fonte: www.wook.pt

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Praça da Canção

Comemoraram-se 50 anos desde o lançamento do Livro Praça da Canção de Manuel Alegre.

Aqui, o poema "Nós voltaremos sempre em Maio", de Manuel Alegre,  por Mário Viegas

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Amor de Perdição


Amor de Perdição
 Romance, Camilo Castelo Branco, 1862
Filme – Manoel de Oliveira,  1979

Sinopse - No início do século XIX, Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, pertencendo a duas famílias rivais, amam-se apaixonadamente. Teresa está prometida a um primo seu, Baltazar Coutinho. A jovem decide entrar num convento. Simão mata Baltazar e é preso. O pai, magistrado, recusa-se ajudá-lo por não lhe perdoar amar a filha do seu pior inimigo. Das respectivas celas, Simão e Teresa correspondem-se por escrito, com a ajuda de Mariana (uma jovem criada que ama secretamente Simão).

Condenado à morte, Simão indultado e enviado para o exílio. No Porto, embarca para a Índia e despede-se de Teresa que, ao longe, lhe acena um último adeus, pelas grades da janela da sua cela, na torre do convento. Teresa cai morta nos braços da camareira. Simão morre na viagem, poucos dias depois. No funeral, a bordo, Mariana, que o seguia para o desterro, atira-se ao mar para se agarrar ao seu cadáver e com ele morrer.
Fonte: Sapo cinema


Documentário sobre Amor de Perdição

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Camilo Castelo Branco


Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (1825-1890) foi um dos escritores mais prolíferos e marcantes da literatura portuguesa contemporânea tendo sido romancista, cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor. Teve uma vida atribulada, que lhe serviu muitas vezes de inspiração para as suas novelas. Foi o primeiro escritor de língua portuguesa a viver exclusivamente do que escrevia. Durante quase 40 anos, entre 1851 e 1890, escreveu à pena, logo sem qualquer ajuda mecânica, mais de duzentas e sessenta obras, com a média superior a 6 por ano. Prolífico e fecundo escritor, deixou obras de referência na literatura lusitana. Apesar de toda essa fecundidade, Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco não permitiu que a intensa produção prejudicasse a sua beleza idiomática ou mesmo a dimensão do seu vernáculo, transformando-o numa das maiores expressões artísticas e a sua figura num mestre da língua portuguesa.


Casa de Camilo em S. Miguel de Seide  - Casa onde Camilo se instalou no inverno de 1863, escreveu grande parte da sua obra e se suicidou a 1 de Junho de 1890.
A residência apresenta um arranjo dos interiores muito semelhante ao da moradia habitada pelo escritor, recriando com grande fidelidade o ambiente que ali se vivera no séc. XIX.
Considerada a maior memória viva de Camilo, a Casa de Seide ganhou um significado histórico de fundamental importância para o conhecimento profundo da vida e da obra do escritor, constituindo cada visita um convite renovado à leitura de Camilo e uma aposta de esperança na perenidade da cultura e da língua portuguesas de que a sua obra constitui afirmação tão singular.


Blogue da Casa de Camilo - Para ler mais sobre Camilo Castelo Branco (citações, excertos das obras, curiosidades, biografia e muito mais).

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Miura - Miguel Torga

Miura
Fez um esforço. Embora ardesse num formigueiro de desespero fez um esforço e mediu com quanta calma pôde a situação
Estava, pois, encurralado, entre quatro paredes, sem poder dar um passo, à espera de que lhe chegasse a vez! Um ser livre da lezíria, um toiro nado e criado na planície sem fim do Ribatejo, de gaiola como um passarinho, condenado a divertir a multidão!
Contra sua vontade, uma onda de calor tapou-lhe o entendimento por um segundo. O corpo, inchado de raiva, empurrou as paredes como um Sansão.
Nada. Os muros eram resistentes, à prova de quanta força e quanta justa indignação pudesse haver. Os homens, só assim: ou montados em cavalos velozes e defendidos por arame farpado, ou com paredes de cimento armado entre eles e a razão dos mais...
Palmas e música lá fora. O Malhado dava gozo às senhorias...
Nova agitação funda o estremeceu inteiro. Dali a nada, ele. Ele, Miura, o rei da campina!
A multidão calou-se. Começou a ouvir-se, sedante, nostálgico, o som grosso e pacífico das chocas.
A planície!... A infinita e mansa planície, loira de sol e trigo... O lago sem fundo de luar, com bocas mudas, limpas, a ruminar o tempo… A fornalha escaldante, sedenta, desesperante, com cega-regas ásperas como praganas…
Novamente o silêncio. Depois, ao lado, passos incertos de quem entra vencido e humilhado no primeiro buraco...
Outra vez o silêncio. O silêncio fundo, pesado, de desgraça que ainda não acabou.
A planície...
Um som fino de corneta.
Estremeceu. Seria agora? Teria chegado, enfim, a sua vez?
Não chegara. A porta que se abriu não foi a sua, e o rugido de desespero que se ouviu a seguir era do Bronco.
Sem querer, cresceu outra vez todo para as paredes estreitas do curro. Mas a indignação e os músculos deram em pedra fria.
A planície... O bebedoiro da Terra-Velha, fresco, com água limpa a espelhar os olhos...
Assobios.
O Bronco não fazia bem o papel...
Um toque estranho, triste, calou a praça e rarefez o curro.
Rápida e vaga, a sombra do companheiro passou-lhe pela vista turva. Apertou-se-lhe o coração. Que seria?
Palmas, música, gritos.
Um largo espaço assim, com o mundo inteiro a vibrar para além daquelas paredes. Algum empo depois, novamente o silêncio e novamente as notas lúgubres do clarim.
Todo inteiro a escutar o dobre a finados, abrasado de não sabia que lume, Miura tentava em vão encontrar no instinto confuso o destino do amigo.
Subitamente, abriu-se-lhe sobre o dorso um alçapão, e uma ferroada fina, funda, entrou-lhe na carne viva. Cerrou os dentes de dor e cresceu quanto pôde.
Desgraçadamente, não podia nada. O senhor homem sabia bem quando e como as fazia. Mas por que razão o espetava daquela maneira?
Três pancadas secas na porta, um rumor de tranca que cede, uma fresta que se alargou, eram-lhe num relance a explicação do enigma da agressão: chegara a sua vez.
Nova ferroada no lombo.
- Miura! Cornudo!
Dum salto todo muscular, quase de voo, estava na arena.
Pronto!
A tremer como varas verdes, de cólera e de angústia, olhou à volta. Um muro e, para lá dele, gente, gente, sem acabar.
Com a pata nervosa escarvou a areia do chão. Um calor de bosta macia correu-lhe pelo rego do servidoiro. Urinou sem querer.
Gritos da multidão.
Que papel ia representar? Que se pedia do seu ódio?
Hesitante, um homem magro, doirado, entrou no redondel.
Olhou-o a frio. Que força traria no corpo mirrado, nas mãos amarelas, para se atrever assim a transpor a barreira?
A figura franzina avançou.
Admirado, Miura olhava aquela fragilidade de dois pés. Olhava-a sem pestanejar, olímpica e ansiosamente.
Com ar de quem joga a vida, o manequim de lantejoulas caminhava sempre. E, quando Miura o tinha já à distância dum arranco, e ainda sem compreender olhava um tal heroísmo, enfatuadamente o outro bateu o pé direito no chão e gritou:
- Eh! boi! Eh! toiro!
A multidão dava palmas.
- Eh! boi! Eh! toiro!
Tinha de ser. Já que desejavam tão ardentemente o fruto da sua fúria, ei-lo.
Mas o homem que visou, que atacou de frente, cheio de lealdade, inesperadamente transfigurou-se na confusão de uma nuvem vermelha, onde o ímpeto das hastes aguçadas se quebrou desiludido.
Cego daquele ludíbrio, tornou a avançar. E foi uma torrente de energia ofendida que se pôs em movimento.
Infelizmente, o fantasma, que aparecia e desaparecia no mesmo instante, escondera-se covardemente de novo por detrás da mancha atordoadora. Os cornos ávidos, angustiados, deram em cor.
Mais palmas da multidão.
Parou. Assim nada o poderia salvar. À suprema humilhação de estar ali, juntava-se o escárnio de andar a marrar em sombras. Não. Era preciso ver calmamente. Era necessário que a sua raiva fosse ao menos de encontro a uma das causas dela.
O espectro doirado lá estava sempre. Pequenino, com ar de troça, olhava-o como um brinquedo com que já brincara.
Silêncio.
Esperou. O homem ia desafiá-lo certamente outra vez.
Assim era. Inteiramente confiado, senhor de si, veio vindo, veio vindo, até lhe não poder sair mais do domínio dos chifres.
Agora!
De novo, porém, a nuvem vermelha apareceu. E de novo Miura gastou nela a explosão da sua dor.
Palmas, gritos.
Desesperado, tornou a escarvar o chão, agora com as patas e com os  galhos. O homem!
Mas o inimigo não desistia. Talvez para exaltar a própria vaidade, aparentava dar-lhe mais oportunidades. Lá vinha todo empertigado,  com dois pequenos paus apontados, e a gritar como há pouco:
- Eh! toiro! Eh boi!
Sem lhe dar tempo, com quanta alma pôde, lançou-se sobre o adversário, disposto a tudo. Não trouxesse ele a nuvem vermelha e veríamos!
Não trazia. E, por isso, quando se encontraram e o outro lhe pregou cachaço, fundas, dolorosas, as duas farpas que trazia nas mãos, tinha-lhe o corno direito enterrado na fundura da barriga mole.
Gritos. Novamente a nuvem vermelha.
Passada a bruma que se lhe fez nos olhos, relanceou a vista pela praça toda. Então?!
Como não recebeu qualquer resposta, desceu solitário à terra do seu martírio. Lá levavam o moribundo em braços, e lá saltava na arena outro farsante doirado.
Esperou. Se vinha sem o pano vermelho, sem a mágica força que o cegava e lhe perturbava o entendimento, morria.
Mas o outro trazia a nuvem.
Apesar disso, avançou. Avançou e bateu, como sempre, em algodão.
Voltou à carga.
O corpo fino do toureiro, porém, fugia-lhe demoniacamente.
Protestos da multidão.
Avançou de novo. Os olhos já lhe doíam e a cabeça já lhe andava à roda.
Humilhado, com o sangue a ferver-lhe nas veias, escarvou a areia mais uma vez, urinou e roncou, num desespero sem limites. Miura, joguete nas mãos dum zé-ninguém!
Num relâmpago, sem dar tempo ao farsante, caiu sobre ele. Mas quê! Como um gamo, o miserável saltava o muro.
Desesperado, espetou os chifres na tábua dura, em direcção à barriga do inimigo, que se ria do outro lado. Sangue e suor corriam-lhe pelo lombo abaixo. Que sorte!
Ouviu uma voz que o chamava. Quem seria? Voltou-se. Mas era um novo palhaço, que trazia também a nuvem, agora pequena e triangular.
Mesmo assim, quase sem tino e a saber que era em vão que avançava, avançou.
Deu, como sempre em fofo.
Renovou a investida. Em fofo, outra vez.
Parou. Mas então não poderia ter fim aquele inferno? Não poderia acabar a sua miséria?
Num último esforço, avançou quatro vezes. Nada. Apenas palmas ao actor.
Onde? Onde estaria o fim daquilo?
Subitamente, o adversário estendeu-lhe diante dos olhos raiados o brilho frio dum estoque.
Quê?! Pois poderia morrer ali, no próprio sítio da sua humilhação?! Os homens tinham dessas generosidades?!
Calada, a lâmina oferecia-se inteira.
Calmamente, num domínio perfeito de si, Miura fitou-a bem. Depois, fechou os olhos e, submisso, entregou o pescoço vencido ao alívio daquele gume.


Torga, Miguel, Os Bichos, 5ª edição, Livraria Figueirinhas, Coimbra 1954