terça-feira, 26 de maio de 2015

Camilo e sua obra


Pelo rasto de Camilo viajamos
Em Seide, terra onde viveu
Na busca de sinais do seu passado
Patente, na sua casa museu.

Um génio da literatura
Inteligente e sagaz
Na crítica, e no confronto
Implacável e mordaz.

Pensador livre e rebelde
Sem amarras e condições
Despertou paixões e ódios
Dilacerou corações.

Foi amante aventureiro
Impulsivo e discreto
Sempre prevaricador
Do socialmente correto.


Por mérito das suas obras
Ganhou prestígio e fama
Pelos escritos românticos
De mistério, amor e drama.

Enfrentou riscos e causas
Abandono e solidão
Desencanto e amargura
E o rigor da prisão.

Mente forte e vencedora
Seu lema de vida inteira
Sucumbiu por suicídio
Vencido pela cegueira.

Ficaram seus bens e memórias
De muitas histórias de encanto
Em sua casa cuidadas
Como relíquias de Santo

Delfim Azevedo

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Visita à Casa de Camilo em S. Miguel de Seide

Camilo e Ana Plácido

     A casa de Camilo, em S. Miguel de Seide, foi mandada construir por Pinheiro Alves, um industrial regressado do Brasil com avultada fortuna que, em 1850 casou com Ana Plácido, no Porto. 
     Como é sabido, os "amores" entre Camilo Castelo Branco e Ana Plácido iniciaram-se ainda durante o casamento, tendo ambos sido acusados de adultério e cumprido pena de prisão na cadeia da Relação do Porto. Posteriormente foram absolvidos e postos em liberdade. 
     Pouco tempo depois morre Pinheiro Alves e, nesse mesmo ano, Camilo e Ana Plácido mudam-se para S. Miguel de Seide, com Manuel Plácido, herdeiro da casa e de parte da fortuna de seu pai. Camilo Castelo Branco viveu nesta casa até à data da sua morte, por suicídio, em 1 de Junho de 1890.
     A casa conserva ainda diverso mobiliário da época, vários objetos do escritor e visitá-la é recuar no tempo imaginando o dia-a-dia de Camilo e de Ana Plácido. O seu escritório, com a grande secretária e as estantes de livros, levam-nos a imaginar o escritor ocupado na sua tarefa de escrever ajudado por Ana Plácido, que também foi escritora, algumas vezes sob pseudónimo, como era usual naquela época em que as escritoras mulheres não era muito bem aceites.
 As explicações do guia, ilustradas com histórias engraçadas e excertos da obra de Camilo citados de cor, a sua simpatia e sentido de humor, contribuíram para que esta visita fosse muito agradável, enriquecedora e para despertar em nós  a vontade de reler Camilo.


À porta do sepulcro, ainda volto a face
Para ver-te chorar, ó mãe do filho amado,
Que vê, como num sonho, a cena do trespasse…
- Sorver-lhe o eterno abismo o pai idolatrado.

Talvez que ele, a sonhar, te diga: "Mãe não chore
Que o pai há-de voltar…" Quem sabe se virei?
Quando a Acácia do Jorge ainda outra vez inflore,
Chamai-me, que eu de Abril nas auras voltarei.
         Acácia do Jorge


Foto de Grupo - Alunos da USIDEC


      

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Plátano




         É uma imagem inspiradora. Gosto disto até à medula, até ao cerne, literalmente. É como uma pintura abstracta, mas como está lá na árvore, naturalmente, abraçando o tronco, é bem concreta, então para quê pintá-la? Ou o meu pincel foi aqui a máquina fotográfica que captou uma imagem impressionista, ou talvez antes, realista. Sugestiva, a lembrar também o tecido da farda militar, o camaleónico camuflado.
         A água aviva-lhe as cores; então esperei que chovesse..., estava a morrinhar, era como se fosse uma camada de verniz, - caía lenta e persistentemente de um céu cinzento plúmbeo, - que paradoxalmente serve para proteger uma pintura da própria humidade. As cores vivas de uma Primavera, ainda que de um Inverno solarengo pudessem ser, de um amanhecer, ou de um entardecer luminosos, estão lá, - mais na parte inferior do rectângulo, que na superior, onde a luz é um pouco dissipadora - na periferia do grosso tronco, aqui planificado.
         Já o fotografara em tempo seco; cores mais claras, desvanecidas, menos recortadas, de uma “pintura” moribunda, sem vida, à espera de rejuvenescer, de ressuscitar com o jacto de verniz, disparado pela objectiva, qual frasco de spray nas mãos de um graffiter urbano e contemporâneo, não o pincel clássico de um “qualquer” Vincent Van Gohg.

Observações: (*)
A data é de uma certa religiosidade, da qual preciso por vezes.
 Dir-me-ão: - “A data é apenas coincidência! Não?”
Direi que sim!
                                                         
Manuel Oliveira Costa


13* de Maio de 2014