segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Galveias

Galveias, o novo romance de José Luís Peixoto centra a sua ação no Alentejo, na aldeia onde nasceu o escritor e reporta-se ao ano de 1984, há trinta anos atrás quando o autor tinha 10 anos. 
 O romance tem muitas personagens, que resultam das memórias do autor e das perguntas que fez a alguns conterrâneos, para as poder caracterizar. É um romance que pretende descrever a realidade rural dessa zona do país, na década de 80.
Após a queda da ”Coisa”, vinda do universo, que abriu uma cratera na Herdade do Cortiço, e que até ao fim não se sabe muito bem o que é, choveu durante sete dias seguidos. 
É a partir daqui que se desenrola toda a narrativa, através da qual o leitor vai descrevendo  as várias personagens e as suas histórias, bem como os efeitos que a “Coisa” provocou na aldeia, desde logo, o sabor estranho do pão,  - a enxofre.
O padre Daniel, alcoólico; o João Paulo, mecânico das tão famosas motorizadas do anos 80, as Famel; o Catarino, um acelera dono da motorizada que apelidava de "Famélica"; o dono do Café Chico Francisco; Isabela, prostituta de noite e padeira durante o dia; o velho Justino; o carteiro Joaquim Janeiro, que, sabe-se depois tem família constituída na Guiné Bissau (mulher e filhos), onde prestou serviço militar; a Tina Palmada; o ti Manuel Camilo; o José Cordato; os Cabeças; o médico dr. Matta Figueira e muitos, muitos outros, até os cães, reúnem-se todos no final do romance, na capela e no terreiro e um fim inesperado e improvável acontece.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Da minha Janela...


 











Da minha janela vejo o campo,
E quatro vacas pastando,
Dela vejo também passar,
O comboio alfa pendular.

De Norte para Sul, e de Sul
Para Norte, quase se cruzam
Em frente à minha janela.

Acontece pela manhã,
Pela tarde também,
É bonito vê-los passar,
Tanto ou mais que neles viajar.

31 de Dezembro de 2008 -16H20m.

Cruzaram-se os alfa pendulares,
Em frente à minha janela.
Metade de mim (1) vai para o Porto
A outra metade (2) para Lisboa
Porque (não) posso ir nos dois…


 (1)   – Corpo
 (2)   – Espírito
Ou vice-versa
Manuel Costa
31 de Dezembro de 2008

Crónica da Quaresma


A seguir ao Carnaval vinha o período medonho da Quaresma. Eu era menino de coro e apavorava-me a igreja cheia de ecos, as imagens aterradoras dos santos, as chamas das velas inclinando-se a tremer quando uma porta se abria, a solenidade, o luto, os jejuns, o peixe à sexta-feira a olhar-me do prato com a sua órbita branca como se também a ele judeus muito maus houvessem crucificado num calvário de grelos e batatas cozidas. Achava que Nosso Senhor Jesus Cristo devia ter morrido assim, às mãos não de Pilatos mas da cozinheira, escamado e a ferver numa panela cruel, que era a Nosso Senhor Jesus Cristo que eu tirava as espinhas e acompanhava a azeite, evitando fitar aquele olho redondo de supliciado culpando-me entre hortaliças da sua morte injusta. 

Antunes, António Lobo, Livro de Crónicas, Crónica da Quaresma

Contribuição de Manuel Costa

Prosa vs verso, Fernando Pessoa


in,  Livro do Desassossego, Bernardo Soares, Fernando Pessoa, 
Contribuição de Manuel Costa