Encontros semanais na USIDEC para aprender, viajar e sonhar através dos livros e da leitura´.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
«Balada da neve» de Augusto Gil
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
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Gostei, fez-me recuar no tempo, muito embora, porque tive a oportunidade de ouvi-lo, veio-me à memória a forma deturpada que nós miúdos a dizia-mos.
ResponderEliminarEste é, talvez, um dos primeiros poemas que conheci na minha vida. Lembro-me de ele fazer parte do manual escolar da escola primária. Na sua simplicidade, descreve a dor do poeta perante o sofrimento das crianças e questiona Deus sobre o porquê desse sofrimento.
ResponderEliminarAugusto Gil Augusto César Ferreira Gil (Lordelo do Ouro, 31 de julho de 1873 - Guarda, 26 de fevereiro de 1929) advogado e poeta português, viveu praticamente toda a sua vida na Cidade da Guarda onde colaborou e dirigiu alguns jornais locais.
Começou a exercer advocacia em Lisboa, tornando-se mais tarde director-geral das Belas-Artes. Na sua poesia notam-se influências do Parnasianismo e do Simbolismo. Influenciado por Guerra Junqueiro, João de Deus e pelo lirismo de António Nobre, a sua poesia insere-se numa perspectiva neo-romântica nacionalista.
Fonte: Wikipédia
Sim. Este poema remete-me para a infância, ao tempo da escola primária. Penso que quase todos da minha geração se lembrarão dele.
ResponderEliminarA par deste poema lembro outro. Ensaio a dissertar por um aluno em festa de fim de ano lectivo. "Contra os toucados", de Nicolau Tolentino de Almeida.
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