Encontros semanais na USIDEC para aprender, viajar e sonhar através dos livros e da leitura´.
segunda-feira, 14 de março de 2016
terça-feira, 1 de março de 2016
Manhã Submersa é
um romance um pouco triste e cruel que retrata a vida de um conjunto de
seminaristas oriundos de famílias pobres ou remediadas que se encontram num
beco sem saída, entre uma suposta perspectiva de vida boa mas cheia de
limitações em contraste com uma suposta liberdade em más condições de vida.
Seminarista à força, ou privilegiado eleito a partir de um capricho de pessoas
ricas e austeras, António Borrralho sofre a obrigação de uma vocação que não
sente, encurralado pela mãe que sonha com uma velhice mais confortável em
virtude da prometedora carreira eclesiástica do filho, e uma tutora que o
escraviza na religião mesmo em períodos de férias, benemérita que faz pagar bem
alto o preço de ajudar uma família que vive na miséria.
Num mosteiro onde também a austeridade impera, por meio de
regras e caprichos de padres que também têm as suas obsessões, aulas de latim
apimentadas por lutas entre facções criadas pelos educadores, ambientes de
isolamento mas simultaneamente de criação de um rebanho dócil de seminaristas a
todo o preço, geram os mais variados tipos de angústias e sentimentos
negativos, atenuados em parte por algumas amizades e também por rivalidades que
distraem os rapazes do ambiente deprimente em que se encontram. As atitudes de
revolta, algumas mais premeditadas, outras longamente alimentadas em silêncio e
depois precipitadas, são uma constante do comportamento dos seminaristas ao longo
dos vários anos que António Borralho aguenta a sua estada no seminário.
O estado emergente da adolescência, as tentações da carne a
que tem que fugir a todo o custo, as provocações pérfidas e degradantes de
várias pessoas entre os quais os seus antigos amigos e pessoas da família da
sua tutora, indiciam um desprezo ao seu estado que o mina por fora como por
dentro, que a pouco e pouco leva António a consolidar uma decisão de ruptura
que o colocará de volta ao seu destino desgraçado mas liberto, preferindo a
crueza da realidade á hipocrisia do meio homem sem vida. Entre as dúvidas dos
amigos e as suas próprias, no descobrir da existência como homem e dos prazeres
e armadilhas que a vida oferece, enleado numa teia de acontecimentos que não
controla e onde se sente um joguete, a longa introspecção acaba por ser um jogo
de hesitações onde só um acto repentino, irreflectido e irreversível, fruto do
ódio, acaba por o colocar no caminho certo do seu destino.
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